Uma visita ao Santuário de Fátima.

January 9, 2018

Creio que já aqui tenha referido algo relativamente às minhas não existentes crenças religiosas aquando o Natal. Ainda assim, sou uma pessoa naturalmente curiosa e especificamente sobre tudo o que nos transcende. Sobre o que não tem aparente resposta lógica. Não me tornei numa pessoa que prima pela ciência como se esta fosse a supremacia da razão, desvalorizando o que se desconhece. Deixo uma porta aberta para aquilo que não compreendo. E sempre me recordo de assim ser. Desde muito nova que colocava perguntas sobre Deus, a igreja e tudo quanto eram lendas. Era a criança chata dos porquês que exigia respostas e que ficava frustrada quando não as tinha e os adultos gaguejavam. Recordo-me de pedir à minha mãe que me comprasse uma bíblia quando tinha apenas sete anos. Pensaram que eu talvez quisesse, por vontade própria, fazer a catequese. Não. O que eu queria era instruir-me. E foi assim que decorei o "Pai Nosso", que rezava antes de ir para a cama e falava para o tecto. Achei tudo aquilo meio estranho, mas nunca tal me foi imposto. (...) Em minha casa nunca se falou de religião, nem sequer de catolicismo. Na verdade, nem baptizada sou, o que em muito agradeço aos meus pais. Hoje em dia não acredito na igreja em si. Acredito nas pessoas e na sua fé. No bem que esta lhes faz, seja qual for o Deus a que rezam. Tanto faz. Eu mesma converso com o mesmo tecto desde então e não lhe sei dar um nome, senão a minha consciência. É algo muito pessoal. Entre mim e... Bem, no fundo, não acredito que exista um Ele. Acredito em energias que nos interligam, que explicam a química e sensação de proximidade com algumas pessoas que até nos eram estranhas e a sensação de pertença a um local. Nunca vos aconteceu? Foi com esse espírito que visitei Fátima. Uma década depois. Tinha eu quinze anos quando lá fui. Percorri a praça central a empurrar o carrinho de bebé da minha prima, que agora me ultrapassa em altura e em tamanho de calçado. Assusta-me o tanto que o tempo corre. Lembro-me dos dilemas da altura, que envolviam o primeiro beijo e a guerra interna entre ter as melhores notas possíveis. Lembro-me de reflectir sobre tal e de pensar: "E se eu colocasse uma vela na câmara ardente, o que pedia?". Hoje creio que não tenha resposta para isso. Nem na passagem de ano o faço em modo de desejo. (...) Cai em mim a maturidade de saber que o que vem também vai, por muito duro que tal pareça. Nada vem para ficar. Até nós, nunca estamos no mesmo sítio ou estado. Seguimos e recuamos. Apenas podemos desejar o bem e continuar. Mas para tal não há velas suficientes, a meu ver.
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  Entendo quem tenha a necessidade de o fazer, se tal acalmar o seu coração, embora seja um negócio crescente. Eu cá gosto de ir a tudo o que envolva catedrais. Tenho um fascínio sobre a sua construção e reparo em detalhes que provêm do meu gosto por história e por ler.
Ken Follett tem sido um dos meus companheiros de mesa de cabeceira. No entanto, o santuário de Fátima cresceu para além disso. Em seu redor, tudo gira em função do milagre de Nossa Senhora..! Os habituais terços e recordações são uma presença espectável, mas o que me intrigou foram os nomes dos restaurantes e hotéis circundantes. Coisas como: Santificado prato, Noite Santa, Pomba Branca, entre outros. A surpresa estava no quão diferente a praça estava com espaços renovados, com um museu, memoriais e homenagens. A vinda do papa S. Francisco, que eu tanto admiro pelo seu carácter genuíno, ajudou, tal como sermos presenteados com um dia solarengo neste primeiro dia de inverno e uma luz rosada ao entardecer. O silêncio tranquilizador também foi bem-vindo!
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Este retorno a Fátima foi marcado pela primeira visita à Basílica de Nossa Senhora do Rosário, onde os três pastorinhos estavam a construir uma "paredita" aquando a aparição a 13 de Maio de 1917. Aqui poderão encontrar os túmulos dos três pastorinhos, os quais nunca antes tinha visto presencialmente e que se caracterizam por serem despojados de ornamentos.
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A história dos pastorinhos sempre me deixou curiosa, até porque a minha avó que morava nos arredores costumava contar detalhes durante as sessões de "Joana come a sopa". É claro que como boa contadora de histórias acrescentava alguns pontos.
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Para além da Basílica, é paragem obrigatória visitar as outras capelas, nomeadamente a conhecida capelinha das aparições com a imagem de Nossa Senhora e a Capela do Santíssimo Sacramento. Os meus pais fizeram questão de colocar algumas velas na câmara ardente, mas a minha caiu para os confins e parece que a reza se encurtou. Esperemos que não seja um ano de azar!
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Brincadeiras à parte, este foi um dos poucos dias em família durante a época de festas, sendo que os meus pais regressaram para França, onde residem. Foram dias intensos em que as prioridades eram outras. Tivemos pouco tempo para nós, enquanto núcleo familiar, e por isso estes dias a passeio são especiais de tão raros. Almoçámos por Almeirim na famosa sopa da pedra do restaurante "O toucinho". Já eu fiquei-me somente por uma posta de bacalhau na brasa (que estava maravilhosa!) e depressa voltámos para casa, aos afazeres e à correria habitual. É bom parar um pouco, por vezes, não é? E assim o fizemos, com energias recarregadas para este ano que se espera desafiante.

2 comments

  1. Antes de mais, uma posta de bacalhau na brasa soa sempre bem, principalmente acompanhadas das nossas melhores pessoas.
    Tens razão, parar, observar à nossa volta e explorar novos detalhes de tudo o que nos intriga é do melhor que há no mundo. Só tu para o fazeres deste modo tão especial e com uma reflexão tão profunda e interessante. Deixo uma porta aberta para aquilo que não compreendo. E sempre me recordo de assim ser. LINDO! Sou praticante e gosto muito da parte espiritual, de me conectar comigo mesma, todos o fazemos de certa forma e o exame de consciência ajuda-me imenso. Gosto mesmo da forma como escreves. Aquece-me o coração! Dá-me vontade de pegar nas chaves e rumar até aos sítios que aconselhas.
    (Deixa-me só salientar que o baptismo é apenas representativa daquilo que os pais acreditam, o crisma é que consolida a tua fé no Deus cristão!)

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  2. Compreendo perfeitamente a tua forma de ver a religião pois, embora tenha finalmente encontrado a minha, já tive os mesmos pensamentos que tu. O Santuário de Fátima é um local que sempre me transmite paz, esperança e amor e que amo verdadeiramente visitar.
    Bei​jinho grande.

    http://apenasfrancisca.blogspot.pt

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